17A

Era março, e eu estava entrando em uma aeronave para uma viagem para Maceió-AL com uma amiga, a qual planejamos por meses essa viagem. 

Logo entendemos que não poderíamos sentar juntas, por isso ela ficou na 10A e eu na 17A. Sentei, me acomodei na poltrona e logo chegou uma menina e sua mãe. 

A criança de uns 4, a 5 anos disse querer sentar a janela. Janela a qual eu estava sentada. Na hora pensei, eu quero sentar a janela?

Sim, eu quero sentar a janela. Também comprei a passagem e a minha é a janela. Com isso, decidi em não dar lugar a criança, pensando, obviamente, não será o primeiro e nem o último não que essa criança irá receber. 

Até porque a vida é assim mesmo. 

Eu pensei

Enquanto meus pensamentos pairavam nessas afirmações, a criança chorava e a mãe tentava acalmar dizendo que no próximo voo ela sentaria a janela.

Nisso um homem de outro assento ofereceu o lugar a janela e gratuitamente disse a infeliz frase.

— Quem iria querer sentar ao lado dessa “rolha de poço?”

o preconceito disse

Silêncio no ar e eu coloquei meus fones de ouvido e fingi que não escutei. 

Nisso sinto-me paralisada, como quem acorda de um pesadelo com paralisia do sono. E claro, tentando refletir sobre o porquê aquilo me afetou e penso. Então, devo levar uma vida muito mais agradável do que essa pessoa, até porque eu não tenho ódio das pessoas e não atinjo ao outro com o que há de ruim e me incomoda e está dentro de mim.

30 minutos se passaram e o mesmo indivíduo que me aferiu o gratuito xingamento, começa a passar mal e desmaia, 2 poltronas ao meu lado. Lábios pálidos, corpo gelado, acompanhante/ aeromoça e profissionais do voo começam a acudí-lo. Na cabine do piloto a solicitação que se há um médico a bordo, apresente-se. Ninguém se apresentou. Eu me prontifiquei e disse, a minha amiga que está na 10A, enfermeira e pode ajudar. Nisso ela é chamada e auxilia nos cuidados do passageiro enfermo e eu sou convidada a trocar de poltrona para melhor manuseio do indivíduo.

O relato fala por si, sem mais reflexões.