DONA MARIA
Em uma manhã, pronta para o trabalho com a preguiça de uma pessoa noturna, encontro a Dona Maria, uma Senhora com mais de 80 anos certamente. Na entrada do elevador do prédio. Ela sempre conversa comigo, pela sua carência de ser muitas vezes deixada de lado pela família. E eu, na medida do possível, sempre tento ser solícita e conversar algumas palavras, apesar de estar sempre atrasada.
Hoje ela fez um comentário que me chamou a atenção. Já não nas suas melhores faculdades mentais, ela me fala:
– Você está sempre muito alegre e feliz né moça?
E eu respondo, sim. Tento estar sempre feliz, até porque eu sou feliz!
E ela:
– Claro, você mora num bom lugar, com um apartamento grande. Teu pai deve ser uma boa pessoa e pagar para você.
E eu disse: Na verdade, não, meus pais são ótimas pessoas, mas eles não me ajudam a pagar o aluguel.
E nisso ela disse.
— Ah, claro, você é formada?
E eu: Sim, sou formada
E ela:
— Claro, teu pai te encaminhou, agora você já se vira!
E eu: Na verdade, ele também não pagou a minha faculdade.
E ela:
— Então tua mãe?
E eu: Não, eles sempre me ajudaram muito, mas não, minha faculdade e minha casa sou eu quem pago.
E ela, espantada, me disse que sou abençoada e me desejou um bom dia, dizendo que devo sempre fazer uma oração quando saio pela manhã.
Nisso pensei: De fato, eu faço poucas orações. Mesmo não sendo uma pessoa religiosa, acredito que o contato espiritual deve existir. Fui fazer a tal oração e travei, já não sabia mais rezar. Peguei o elevador e vim ao trabalho, reflexiva.
Pensando, sei que ela não teve má intenção em falar sobre isso, mas sim sobre as referências que ela tinha sobre uma mulher muito jovem e solteira. Os pensamentos da Dona Maria estão presentes até hoje e ainda demoram a ir embora no inconsciente social.
Senti uma grande satisfação e percebi que afinal, por que queremos conquistar tanto sendo que não somos gratos pelo que já temos? O mundo não será suficiente para alguém que não consegue perceber suas conquistas.